Manifestos nas redes sociais marcam Dia do Autismo: #respectro

Em meio à crise em que a sociedade vive para o controle da disseminação da Covid-19, provocada pelo novo coronavírus, os manifestos nas redes sociais foram alternativas encontradas para celebrar o Dia Mundial do Autismo, nesta quinta-feira, dia 2 de abril.

 Grupos ligados à causa programam atividades virtuais e com o slogam “respeito para todo espectro”  e a  hashtag especial  #respectro  criados pela Revista Autismo, prometem marcar o dia mundial do autismo.

Campanha da Revista Austimo para o Dia Mundial de Conscientização do Autismo
TEA está em grupo de riscos para Covid-19

Pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) fazem parte do grupo de indivíduos, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), que possuem um risco maior de contágio pelo coronavírus. Portanto, o isolamento social é o mais recomendado como medida de proteção.

Neste artigo, para marcar o Dia Mundial do Autismo, o curso para Residência Médica Revisamed procura esclarecer o que é o TEA, o que há de mais novo em termos de pesquisa e também os mitos que envolvem a doença.

Dia de Conscientização do Autismo instituído pela ONU

O dia 2 de abril  foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), no fim de 2007, como sendo o Dia Mundial de Conscientização do Autismo (no original em inglês: World Autism Awareness Day), quando cartões-postais de todo o planeta se iluminam de azul.

No Brasil, o mais famoso é o Cristo Redentor — para lembrar a data e chamar a atenção da mídia e da sociedade para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Em mensagem para o Dia Mundial, o secretário-geral da ONU, António Guterres, defendeu o uso da tecnologia para promover a inclusão e independência de pessoas que vivem com essa condição neurológica.

O dirigente máximo das Nações Unidas enfatizou a necessidade de tornar as chamadas tecnologias assistivas acessíveis para todos.

Você pode ler também o Guia de Segurança Online útil para as pessoas com distúrbios do espectro do austimo.

Mas afinal o que é o autismo?

 Com o nome técnico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição de saúde caracterizada por déficit na comunicação social (socialização e comunicação verbal e não verbal) e comportamento (interesse restrito e movimentos repetitivos).

 São vários os subtipos do transtorno. Tão abrangente que se usa o termo “espectro”, pelos vários níveis de comprometimento.

Há ainda pessoas com outras doenças e comorbidades, como deficiência intelectual e epilepsia, até pessoas independentes, com vida comum, sem jamais terem um diagnóstico.

O certo é que o autismo não é um transtorno único, mas sim um espectro de transtornos que pode variar em intensidade e em características, a depender de cada indivíduo.

Em geral, essas características se manifestam em dificuldades no convívio social, comportamento repetitivo e, em alguns casos, ansiedade e transtorno de deficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

Pesquisador aponta avanços da ciência e refuta mitos do autismo

Pesquisador da Universidade de Haward, o americano Charles Nelson, em entrevista concedida à BBC News Brasil , em fevereiro deste ano,  destacou que, embora não haja um consenso da ciência sobre as causas do Autismo, algumas pesquisas recentes, porém, trazem novas pistas e ajudam a derrubar mitos comumente relacionados ao TEA.

Professor de Pediatria e Neurociência e responsável por um laboratório do Hospital Infantil de Boston, que pesquisa desenvolvimento cognitivo de crianças, inclusive as que estão no espectro autista, Charles Nelson, apontou onde os estudos têm avançado no entendimento do TEA — e onde os avanços têm sido lentos.

Dentre estes mitos, está o de que a vacina MMR (no Brasil, a tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola) causa autismo.

Os estudos do pesquisador revelaram que a partir dos três meses, já é possível identificar padrões no cérebro de bebês de alto risco de desenvolver o TEA.

O fato de esses sinais poderem ser observados a partir de três meses de vida, diz Nelson, indica que o autismo ocorre muito antes dos 12 meses, que é quando as crianças costumam tomar a vacina da tríplice viral .

Outro mito decartado pela ciência surgiu na década de 1940. O mito “mãe geladeira”, de que mães poucos amorosas provocavam autismo em seus filhos. “Nunca houve qualquer evidência a este respeito”, sustenta o pesquisador.

Portanto, o que se sabe sobre as causas do autismo?

A genética é apontada cada vez mais para as causas do autismo. Segundo a Revista Autismo , “confirmando estudos recentes anteriores, um trabalho científico de 2019 demonstrou que fatores genéticos são os mais importantes na determinação das causas (estimados entre 97% e 99%, sendo 81% hereditário — e ligados a mais de 900 genes).

Além de fatores ambientais (de 1% a 3%) ainda controversos, também possam estar associados, como, por exemplo, a idade paterna avançada ou o uso de ácido valpróico na gravidez. Existem atualmente 913 genes já mapeados e implicados como fatores de risco para o transtorno — sendo 102 genes os principais”.

Porém, para o pesquisador, na grande maioria dos casos, não é possível ter certeza absoluta das causas do autismo. “A maioria de nós [pesquisadores do assunto] acredita que se trate de uma vulnerabilidade genética com um gatilho ambiental. E sabemos que é um distúrbio do desenvolvimento do cérebro que aparece muito cedo. Então a pergunta é: o que faz o cérebro ir nessa direção?”.

O que se acredita é que o fato de muitas crianças no TEA terem comportamentos repetitivos e sensibilidade a estímulos sensoriais (por exemplo, à luz ou a ruídos) se deva à existência de muitas conexões de curto alcance nas áreas visuais do cérebro e, ao mesmo tempo, a poucas conexões de longo alcance — as quais ajudam na percepção social, que é justamente a área em que crianças do espectro costumam ter dificuldades, revela a reportagem.

Os estudos que estão sendo desenvolvidos, embora sejam considerados os maiores do mundo, ainda são pequenos, com poucos bebês em que já foi manifestado autismo nas famílias.

O objetivo agora é ter uma amostra mais ampla da população em geral. O professor prevê que ainda serão necessários alguns anos para as pesquisas apontarem para o diagnóstico precoce, que permitiria uma intervenção mais cedo garantindo um melhor desenvolvimento às crianças.

Diagnóstico a partir dos 18 meses

Atualmente, o diagnóstico é feito por especialista por volta dos 2 anos de idade e, em alguns casos, aos 18 meses. São observados, por exemplo, se as crianças não se viram ao escutar seus próprios nomes, se rejeitam o contato visual e se têm desenvolvimento motor atípico.

O pesquisador ainda alerta para os tratamento alternativos e “milagrosos” que muitos pais recorrem e que não tem eficácia garantida, podendo, inclusive, serem extremamente periogosos.

Dia Mundial do Autismo: Valorização das fortalezas

Outro ponto refere-se à valorização das fortalezas do indivíduo com TEA. “Muitas pessoas dizem que focamos demais nos deficits e não tanto nas fortalezas das pessoas no espectro autista”.

Um dos casos recentes que mais chamam a atenção é o da jovem ativista climática sueca Greta Thunberg, diagnosticada com a síndrome de Asperger (que atualmente é parte do espectro autista) e que demonstrou grande habilidade em galvanizar o público em torno de sua causa.

“Os interesses restritos (das pessoas com TEA) podem se tornar seu ponto forte”, diz Nelson. “Essas pessoas às vezes têm habilidades excepcionais e memórias incríveis. As que são boas com números podem se tornar matemáticas brilhantes, por exemplo”, explica o pesquisador.

Sinais do Autismo

Veja agora  alguns sinais de autismo. Apenas três deles presentes numa criança de um ano e meio já justificam uma suspeita para se consultar um médico neuropediatra ou um psiquiatra da infância e da juventude.

  • Não manter contato visual por mais de 2 segundos;
  • Não atender quando chamado pelo nome;
  • Isolar-se ou não se interessar por outras crianças;
  • Alinhar objetos;
  • Ser muito preso a rotinas a ponto de entrar em crise;
  • Não brincar com brinquedos de forma convencional;
  • Fazer movimentos repetitivos sem função aparente;
  • Não falar ou não fazer gestos para mostrar algo;
  • Repetir frases ou palavras em momentos inadequados, sem a devida função (ecolalia);
  • Não compartilhar seus interesses  e atenção, apontando para algo ou não olhar quando apontamos algo;
  • Girar objetos sem uma função aparente;
  • Interesse restrito ou hiperfoco;
  • Não imitar;
  • Não brincar de faz-de-conta
Números e informações do Brasil e do mundo

O termo “Transtorno do Espectro do Autismo” passou a ser usado a partir de 2013, na nova versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, publicação oficial da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM-5, quando foram fundidos quatro diagnósticos sob o código 299.00 para TEA: Autismo, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação e Síndrome de Asperger. Na atual Classificação Internacional de Doenças, a CID-11, o autismo recebe o código a 6A02 (antigo F84, na CID-10), atualizada em junho de 2018, também sob o nome de TEA.

Aproximadamente um terço das pessoas com autismo permanecem não-verbais (não desenvolvem a fala) — conforme estudos de 2005 e 2012.

Estima-se que um terço das pessoas com autismo tem algum nível de deficiência intelectual.

Há algumas condições clínicas associadas ao autismo com mais frequência, como: distúrbios gastrointestinais, convulsões, distúrbios do sono, Transtorno de Déficit da Atenção com Hiperatividade (TDAH), ansiedade e fobias — segundo estudos de 2012, 2017 e 2018.

Em 2007, a ONU decretou todo 2 de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo ( em inglês, World Autism Awareness Day), quando vários cartões-postais do mundo iluminam-se de azul em prol da causa para chamar a atenção da sociedade ao tema, como o Cristo Redentor, no Brasil, o Empire State, nos EUA, a CN Tower, no Canadá, a Torre Eiffel, na França, as pirâmides do Egito, entre outros.

No Brasil, a “Lei Berenice Piana” — Lei 12.764, de 2012, que criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo, regulamentada pelo Decreto 8.368, de 2014 —  garante os direitos dos autistas e os equipara às pessoas com deficiência.

Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo (CDC, na sigla em inglês: Centers for Disease Control and Prevention) estima a prevalência de autismo em 1 a cada 54 crianças naquele país — números divulgados em 26.mar.2020, referentes a pesquisa de 2016. O número de meninos é quatro vezes maior que o de meninas.

Estudos na Ásia, Europa e América do Norte dão conta de números entre 1% (1 para cada 100) e  2% (1 para cada 50) com autismo.

A ONU, através da Organização Mundial da Saúde (OMS), considera a estimativa de que aproximadamente 1% da população mundial esteja dentro do espectro do autismo, a maioria sem diagnóstico ainda.

No Brasil, temos apenas um estudo de prevalência de TEA até hoje, um estudo-piloto, de 2011, em Atibaia (SP), de 1 autista para cada 367 habitantes (ou 27,2 por 10.000) — a pesquisa foi feita apenas em um bairro de 20 mil habitantes da cidade. Segundo a estimativa da OMS, o Brasil pode ter mais de 2 milhões de autistas.

Um mapa online, do site Spectrum News, traz todos os estudos científicos de prevalência de autismo publicados em todo o planeta. Veja na versão online deste texto no site RevistaAutismo.com.br.

Os Estados Unidos ainda não têm nenhuma estimativa confiável da prevalência de autismo entre adultos, destacando que esta é uma condição vitalícia para a maioria das pessoas. A cada ano, cerca de 50 mil jovens com TEA cruzam a maioridade dos 18 anos nos EUA. No Brasil não há números a esse respeito.

Um estudo da Autism Speaks, em 2012, aferiu o custo anual do autismo para os EUA, de US$ 126 bilhões, e para o Reino Unido, £34 bilhões (US$ 54 bilhões).

A idade média de diagnóstico nos EUA é de 4 anos de idade, segundo estudo de 2018 em 11 estados. No Brasil, um estudo-piloto somente na cidade de São Paulo (SP), também em 2018, chegou ao número de 4 anos e 11 meses e meio (4,97) como idade média de diagnóstico de autismo, mas com uma variação bem grande — mais estudos devem ser feitos.

Há síndromes e outros transtornos neurológicos de origem genética ligados ao autismo como: Síndrome de Rett, CDKL5, Síndrome de Timothy, Síndrome do X Frágil, Síndrome de Angelman, Síndrome de Prader-Willi, Síndrome de Phelan-McDermid, entre outras.

Segundo pesquisa global de 2019, com mais de 2 milhões de pessoas, de 5 diferentes países, de 97% a 99% dos casos de autismo podem ter causa genética, sendo 81% hereditário; e de 1% a 3% apenas podem ter causas ambientais, ainda controversas, como, a idade paterna avançada ou o uso de ácido valpróico na gravidez. Existem atualmente mais de novecentos de genes (precisamente 913, em fev/2020) já mapeados e implicados como fatores de risco para o transtorno.

Fonte:Revista Autismo